Autor : Danielle Carvalho da Silva
Graduanda em Gestão de Políticas Públicas - EACH USP
Entende-se por educação fiscal o conjunto de ações que visam proporcionar ao cidadão a total compreensão das atividades financeiras do Estado, desde a arrecadação e aplicação, até a fiscalização dos recursos públicos. Este artigo abordará dois dos pontos que norteiam o Programa Nacional de Educação Fiscal (PNEF), são eles: a sensibilização do cidadão para a função socioeconômica do tributo e o incentivo ao acompanhamento, pela sociedade, da aplicação dos recursos públicos.
O primeiro ponto está
diretamente relacionado com a percepção que os cidadãos têm dos impostos e sua
utilização. Por este motivo, se faz necessária a conscientização dos mesmos
para com a arrecadação e sua importância para a sociedade, sobretudo no
fornecimento de serviços públicos. Visando exemplificar a utilização
socioeconômica dos tributos usaremos a nota fiscal, que nos é fornecida quando
realizamos compras.
Pedir a nota fiscal no
ato da compra é uma pequena atitude cotidiana, e também representa um grande
ato de educação fiscal, porque nela está especificado o valor de Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que incorre sobre o produto/serviço
adquirido. Ao fazer isso, o cidadão está contribuindo com os cofres públicos,
com o fornecimento de serviços e manutenção de bens públicos.
Cada compra realizada
sem a nota fiscal representa redução dos recursos que financiam os serviços
públicos, já que o imposto que seria arrecadado pode ficar com o lojista.
Embora esta pequena atitude pareça “inocente”, pode apresentar efeitos sociais
significativos para a parcela menos favorecida da população que se beneficia
direta e unicamente dos serviços financiados por esta arrecadação, além de ser
quem mais contribui com tal imposto visto que representa boa parte de seu
rendimento mensal.
A educação fiscal não
restringe o conhecimento do cidadão somente sobre a importância da arrecadação
e do emprego dos recursos obtidos, também demonstra que é preciso acompanhar e
fiscalizar sua aplicação. O segundo ponto norteador da educação fiscal, que
será abordado a seguir, versa sobre este assunto.
Incentivar a sociedade
a acompanhar a aplicação dos recursos públicos também é educação fiscal e,
atualmente, existem espaços de participação popular que permitem o controle
social dos gastos públicos. Além disso, a participação cidadã, que é uma
maneira de garantir maior transparência nos atos dos dirigentes, está
assegurada pela Lei de Responsabilidade Fiscal, em seus artigos 48 e 49.
A construção de uma
consciência voltada para o exercício da cidadania com a efetiva participação
das pessoas no funcionamento dos instrumentos de controle e ocupação dos
espaços de participação, como o Orçamento Participativo, conselhos de bairro,
os conselhos de políticas públicas, os conselhos escolares, entre outros, de
forma a buscar modificações no quadro social vigente, é um exercício de
educação fiscal.
A participação
consciente proporciona ao cidadão maior conhecimento dos gastos públicos e, consequentemente,
maior capacidade de fiscalização. O mesmo saberá onde reclamar caso faltem
remédios nos UBS, quando o asfalto de sua rua está com buracos, ou quando está
sem iluminação pública, quando o transporte público fornecido não é de
qualidade, quando considera que o ensino em determinada escola e/ou região está
ruim, etc. São pequenas atitudes que podem geram grandes resultados para a
sociedade, sobretudo para aqueles menos favorecidos que dependem dos serviços
públicos mantidos pelos tributos recolhidos.
A combinação da
conscientização sobre o importante papel dos tributos, para o fornecimento de
serviços e manutenção de bens públicos, com a participação cidadã, visando a
justiça social, representa ações de responsabilidade social e cidadania. Esta
combinação é fundamental para harmonizar a relação Estado/sociedade, diminuir
desigualdades sociais e fortalecer o conceito de bem público, além de favorecer
a transparência na administração pública e, consequentemente, melhorar a visão
que o cidadão tem sobre a tributação do país e sobre a alocação dos recursos.
Muitos tributos
importantes não foram citados neste artigo, sobretudo por falta de espaço.
Porém, o exemplo da nota fiscal buscou demostrar que pequenas ações rotineiras
refletem diretamente sobre a sociedade, sobretudo para os menos favorecidos. É
fato que o mau emprego de recursos públicos representa externalidades negativas
para a sociedade, mas não pode ser considerado como único fator responsável. A
educação fiscal pode auxiliar a reverter este cenário fazendo com que a
população busque respostas e fiscalize as ações dos dirigentes públicos.
O cidadão que tem
consciência da importância do tributo como instrumento capaz de promover a
redução de desigualdades sociais, ou seja, que sabe da função social do
tributo, é capaz de participar de todo o processo de tributação, fiscalizando
cada etapa para que os resultados obtidos sejam, de fato, as modificações
sociais esperadas. É a educação fiscal como exercício da cidadania.
Referências
bibliográficas:
Programa nacional de
Educação Fiscal. Disponível em: http://www.receita.fazenda.gov.br/educafiscal/pnef.htm. Acesso em: 23/04/2014
Almanaque do Leãozinho. Disponível
em: http://www.receita.fazenda.gov.br/publico/educacaofiscal/Publicacoes/ALMANAQUE%20TURMA%20DO%20LEAOZINHO.pdf. Acesso em: 22/04/2014
Lei de Responsabilidade
Fiscal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm .Aceso em: 24/04/2014